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Quase meio século e o sonho ainda persiste - Maurício Donegá

Aos 50 anos, muitas pessoas olham para trás e enxergam uma trajetória consolidada, repleta de escolhas, algumas acertadas, outras nem tanto. E está tudo bem. Afinal, a vida é feita de ciclos, aprendizados e recomeços. Mas, o que acontece quando, aos 49, você percebe que ainda há um sonho que nunca te abandonou? Um sonho que, talvez, tenha ficado guardado em uma gaveta da alma, esperando o momento certo para vir à tona. No meu caso, esse sonho é ser comunicador popular e narrador esportivo.

Muitos diriam que, com essa idade, já passou o tempo de tentar algo novo, que a vida se estabiliza e que os grandes saltos ficam para trás. Mas eu me pergunto: quem disse que é tarde demais? Por que os 50 anos não podem ser o início de uma nova jornada? Afinal, se há algo que o tempo me ensinou, é que viver é sempre acreditar no próximo passo, no próximo sonho, no próximo desafio.

Desde jovem, sempre fui apaixonado por esportes, principalmente pelo futebol. Não apenas por assistir aos jogos, mas pela emoção que vem da narração. Sempre fui aquele que, nos jogos desde o futebol de mesa com amigos, pegava o microfone improvisado e começava a narrar os lances. O entusiasmo crescia a cada gol, cada jogada, cada defesa. Era como se, por alguns minutos, eu estivesse no estádio, com milhares de pessoas vibrando comigo. E, naquele momento, eu sentia: "É isso que eu quero fazer."

Mas a vida foi acontecendo. Vieram os compromissos, o trabalho, a família. E o sonho ficou em segundo plano. Só que, ao contrário do que muitos pensam, sonhos não morrem. Eles adormecem. E foi aos 45 que eu acordei o meu.

O engraçado é que não houve um momento exato, um clique mágico que dissesse "agora é a hora". Foi uma sucessão de pequenos sinais e num dos períodos mais tristes da humanidade, a pandemia de Covid-19, encontrei o conforto começando o projeto da WR Prime FM. Com o apoio total de minha família e com amigos comentando que eu deveria narrar profissionalmente ou a sensação de que, apesar de todas as conquistas até aqui, ainda faltava algo. Então, me perguntei: "Por que não agora?". Se eu amo isso, se ainda tenho paixão por esse sonho, o que me impede de tentar? A idade? O medo do novo?

E então, decidi me jogar. Voltar a estudar, aprender mais sobre técnicas de comunicação, entender os bastidores do rádio e da narração esportiva. O desafio é enorme, mas a vontade de vencer é maior. E, surpreendentemente, tenho descoberto uma coisa fantástica: a experiência de vida que carrego me dá uma bagagem única. Eu trago comigo histórias, vivências e uma visão de mundo que não se aprendem em cursos. Isso me diferencia, e percebo que, mesmo começando tarde, tenho algo valioso a oferecer.

Mais do que narrar lances de futebol, quero conectar as pessoas com a emoção do jogo, com a alegria do esporte, com a magia de uma partida decisiva. Quero que, ao me ouvirem, os torcedores se sintam lá no estádio, vibrando comigo, como eu vibrava nos jogos de botão com os amigos. Quero ser aquela voz que traz alegria, emoção e esperança.

Se você, assim como eu, tem um sonho guardado, independente da sua idade, não se deixe levar pelas dúvidas ou pelo medo. A vida não tem uma data de validade para sonhar. Se há algo que pulsa dentro de você, que faz seus olhos brilharem, vá atrás. A sensação de dar esse passo, de correr atrás do que faz seu coração bater mais forte, é indescritível.

Eu não sei onde essa nova fase da minha vida vai me levar. Talvez eu me torne o próximo narrador esportivo que você vai ouvir no rádio, ou talvez eu apenas viva a felicidade de ter tentado. Mas, de uma coisa eu tenho certeza: nunca é tarde para buscar o que te faz feliz. E, aos 49 do "primeiro tempo", estou vivendo o início de um dos maiores capítulos da minha vida.